O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que precisa concentrar todas as suas forças em realizar uma “transição suave” na autoridade monetária “para que as pessoas entendam que tudo tem continuidade, que o Banco Central vai perseguir a meta, vai trabalhar de forma técnica”. A afirmação de Campos Neto veio em resposta a um questionamento sobre qual seria seu futuro após sair do cargo.
“A gente faz uma transição suave para ganhar amadurecimento, melhorar institucionalidade, para melhorar a situação para os que vêm depois de mim”, afirmou.
Campos Neto repetiu que espera que seu sucessor não seja criticado “pela cor da camisa que ele veste, ou se ele foi a uma festa, ou se ele participou de homenagem de um jeito ou de outro. Quero que seja julgado pelas decisões técnicas que ele tomou”.
Segundo Campos Neto, quem está no BC não tem como não estar perto do governo e de parlamentares porque é necessário fazer esse trabalho para aprovar os projetos. “Você precisa ter capacidade de diferenciar o que é proximidade e o que é autonomia e independência. Então espero que isso aconteça e que isso seja cada vez mais parte da cultura do Banco Central.”
Ao falar sobre a condução da política monetária, Campos Neto afirmou que “a gente entendeu e continua entendendo que é importante agora esperar. Tem um valor de esperar, ver os dados”.
Segundo ele, a mensagem que o BC tem tentado passar é a mesma que foi passada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O presidente do BC afirmou que a autoridade monetária “consertou” alguns entendimentos entre o comunicado e a ata que acreditavam não estar em linha com o que queria ser dito.
“De lá para cá, a gente meio que tem comunicado a mesma coisa. A gente teve alguns números mais fortes na parte local e teve uma situação externa que acho que está se encaminhando para um desfecho melhor, apesar da volatilidade recente”.
De acordo com Campos Neto, no cenário externo houve uma volatilidade grande em termos de expectativas de juros, assim como no Brasil. “A nossa tarefa é não olhar tanto para esse ruído de curto prazo, esse movimento de precificação, e pensar assim: qual a mensagem que a gente quer passar?”
Em sua fala, Campos Neto destacou mais de uma vez que a mensagem continua sendo muito parecida com a que foi passada na ata da última reunião do Copom, de “que a gente vai fazer o que for tiver que fazer, que se precisar subir os juros, vai subir os juros. Que a gente decidiu não dar um “guidance” (sinalização) aberto, que a gente entende que o Banco Central vai estar “data dependent” (dependente de dados) e teve muita volatilidade no meio do caminho, que a gente precisa atuar com cautela.”
Campos Neto ainda pontuou que na ata foi utilizada a palavra “diligente” e que a expectativa era de um impacto maior dessa palavra do que o que ocorreu. Na ata, a palavra foi utilizada quatro vezes. Em uma delas, por exemplo, foi na frase que explicitava a visão do comitê de necessidade “de uma política monetária ainda mais cautelosa e de acompanhamento diligente do desenrolar do cenário”.
Na questão sobre precificação de altas de juros, Campos Neto apontou que “quando você precifica mais, você tem o efeito da precificação nos mercados, por outro lado, o cenário tem variado muito, tanto externo quanto local”.
Durante o evento do BTG, Campos Neto afirmou que o cenário global de convergência da inflação está acontecendo. Segundo o presidente do BC, de uma forma geral, os países avançados têm registrado os núcleos de inflação caindo bastante. Ele ressaltou que a inflação de serviços continua em nível acima do que seria o histórico.
Já no caso de emergentes, há também uma convergência e, de acordo com o presidente do BC, em alguns casos em níveis bem acima. Campos Neto pontuou que no caso da América Latina, por exemplo, se vê mão de obra mais apertada, mas com efeitos diferentes em termos da inflação de serviços.