O Banco Central (BC) tem privilegiado o orçamento para tecnologia, “em especial o necessário ao Pix”, em detrimento de outros projetos. Mesmo assim, classifica o cenário para 2023 como “bastante desafiador” e disse que o valor de investimento para este ano depende de uma recomposição orçamentária que está sendo negociada com o governo.
Com os investimentos até agora, o Pix chegou a 149,1 milhões de pessoas físicas e a 14,2 milhões de pessoas jurídicas cadastradas desde o lançamento, em novembro de 2020. O BC calcula que o meio foi responsável por incluir 71,5 milhões de usuários no sistema financeiro até dezembro de 2022, dado mais recente.
Com a expansão da base de usuários e as novas funcionalidades incorporadas ao longo dos últimos anos, o Pix representa valores de custeio e investimento crescentes para o BC — enquanto trouxe, de outro lado, um salto na bancarização e na eficiência nas transações.
Os custos de implementação do Pix até 2021 foram de R$ 13,6 milhões. Já em 2024, a previsão é de R$ 25,3 milhões para custeio e R$ 43,1 milhões para investimento. Os números são aproximados porque o custeio e o investimento são feitos de forma geral em todo o parque computacional do BC. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Segundo a autoridade monetária brasileira, o aumento das cifras é decorrente da necessidade de constante ampliação da capacidade de processamento e armazenamento do sistema. Há ainda o impacto de novas funcionalidades e das melhorias na segurança do meio de pagamento instantâneo.
Mesmo em alta, os valores representam um percentual pequeno em relação ao orçamento liquidado do BC, que, em 2023, foi de R$ 3,9 bilhões. Desse total, 92,7% foram para pessoal, encargos sociais e benefícios; outros 5,6%, ou R$ 222,6 milhões, foram para custeio e 1,7%, ou R$ 69,9 milhões, para investimento.
Leandro Vilain, sócio da Oliver Wyman na área de serviços financeiros, afirma que o Pix “canibalizou” as transações em espécie, e isso, na visão dele, “é extremamente favorável para a população de baixa renda”. Como exemplo, cita casos de prestadores de serviço que recebiam em espécie e agora aceitam Pix — o que não só aumenta a clientela potencial como também abre novas possibilidades.
“Você tem uma parcela da população que são autonômos, motoristas de táxi, que recebiam muita transação em dinheiro, pequenos agentes autônomos ou diaristas. Essas pessoas passaram a receber dinheiro na conta corrente e o banco passou a ter informação necessária para prover crédito, caso seja necessário”, diz.
Fim da linha para TED e DOC
O Pix não tem tarifas para pessoas físicas e contribuiu para aumentar a quantidade de transações no sistema financeiro. Para se ter uma ideia, no terceiro trimestre de 2020, 10,8 bilhões de transações foram realizadas. No quarto trimestre do ano passado, esse número chegou a 30,8 bilhões.
Antes do Pix, as opções mais fáceis para transferências eram TED e o DOC, que tinham tarifas. A TED perdeu força no dia a dia e hoje responde por 1% da quantidade de transações, enquanto o Pix tem 43%. Já o DOC deixou de ser oferecido pelos bancos neste ano.
Pix Saque, Pix Troco e mais segurança
O Banco Central tem adicionado recursos ao Pix desde o lançamento. Já estão em operação o Pix Saque e o Pix Troco, que permitem retiradas de dinheiro em espécie em lojas e lotéricas. Para melhorar a segurança das operações, foram implantados o bloqueio cautelar, em caso de suspeita de fraude, e o “Mecanismo Especial de Devolução”, que facilita o ressarcimento de um Pix em caso de fraude.
Em meio a essa agenda evolutiva, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já falou publicamente sobre as dificuldades orçamentárias do órgão, inclusive com a diminuição dos recursos para parte de projetos.
Em evento no fim de abril, Campos Neto foi questionado sobre se há algum risco ao funcionamento do Pix. A resposta foi que hoje não há perigo de haver um problema grande. No entanto, ele pontuou que alocou muitos funcionários para a parte de segurança do sistema, o que prejudicou o desenvolvimento de novas funcionalidades.
O Pix Automático chegou a ter seu lançamento adiado de abril para outubro deste ano. Na época do anúncio, em meio à operação-padrão dos servidores do BC, a instituição atribuiu o adiamento a fatores como tempo necessário para o desenvolvimento e questões organizacionais. O serviço deve operar de maneira parecida com o débito automático, com facilitação de pagamento de contas recorrentes, como água e internet.
Críticas do setor privado
O modelo escolhido pelo BC, de centralizar o sistema do Pix, já foi alvo de críticas do setor privado. Bancos e instituições de pagamento reconhecem o sucesso do Pix, mas veem limitações na operação feita por um ente público e de orçamento restrito.
No relatório integrado do ano passado, documento em que o BC apresenta um panorama da sua atuação, a autoridade monetária destacou que o maior desafio “foi manter o nível de resultados observados nos exercícios passados, em especial a incorporação de inovações tecnológicas nas áreas de negócio do BC para sustentar o sistema financeiro do futuro, tais como Pix, Drex [real digital] e open finance”.