Nos últimos 10 anos, conhecemos a realidade de centenas de empresas e contribuímos para o avanço da cultura organizacional de muitas delas. Nessas vivências de norte a sul do Brasil, observamos tendências e movimentos positivos na agenda de equidade e inclusão. Centenas de empresas e governos se comprometeram com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU. Mas os indicadores mostram que quase 40% dos países estão retrocedendo ou estagnados em relação à igualdade de gênero. Apesar de ter avançado, o Brasil está em 64° lugar entre os 139 países analisados pela Equal Measures 2030.
Outro passo importante é reconhecer, de partida, que todos temos vieses e preconceitos, mesmo que inconscientes. Atuamos em empresas de setores predominantemente masculinos e vemos na prática quando “cai a ficha” de um homem que uma fala ou comportamento podem ser caracterizados como importunação ou assédio. Muitas vezes, as mulheres também carregam vieses machistas e normalizam atitudes que não deveriam ser toleradas. É complexo e delicado, mas é essencial promover esse tipo de conversa em espaços de conscientização e acolhimento. Ao trazer nossos vieses para a consciência e entender suas consequências, temos a escolha de como agir sobre eles.
Também aprendemos que nada acontece sem as lideranças. Governança é crucial e não à toa é uma das letras da sigla ESG. Para que a sua empresa de fato seja comprometida com os avanços de diversidade e inclusão, todos os níveis hierárquicos precisam estar engajados e trabalhando ativamente por uma cultura corporativa mais positiva e justa. Engajar os aliados, como os homens — quando falamos de equidade de gênero, ou as pessoas brancas — quando falamos de equidade racial, faz toda a diferença quando o objetivo é ampliar a retenção dos funcionários. Na Think Eva, ajudamos a criar esses processos de engajamento para que a organização conte com aliados pela equidade e lideranças inclusivas.
Por fim, o aprendizado principal desses últimos anos que levamos como lembrete e alerta em todos os lugares que passamos é: a sua empresa não é um organismo isolado do mundo, ela faz parte da sociedade que somos e pode — ou não — contribuir para a que desejamos construir. Nesse sentido, todo esforço que é feito da porta pra dentro da empresa também precisa ser refletido da porta pra fora, cuidando das cadeias produtivas e da externalidade dos produtos e serviços que são colocados no mundo.
Maíra Liguori é jornalista formada pela PUC-SP, com pós-graduação em comunicação estratégica e em ciências da religião, em Barcelona. Também é mãe e diretora na consultoria Think Eva e na ONG Think Olga. Ambas as organizações promovem soluções para as questões de gênero e intersecções tendo como ferramenta a comunicação. Por seu trabalho nas organizações Think Olga e na Think Eva foi bi-campeã do prêmio WEPs, da ONU Mulheres, indicada ao Prêmio Caboré (2021) e finalista do Troféu Mulher Imprensa (2023). Em 2017, foi eleita uma das 100 mulheres mais inovadoras do mundo pela BBC de Londres e em 2022 foi escolhida pelo Meio & Mensagem como uma das pessoas que estão mudando o jogo no mercado de comunicação.
Nana Lima é mãe, empreendedora social e co-fundadora da Think Eva, consultoria de inovação social que cria soluções para ampliar a equidade de gênero e a inclusão dentro das empresas. É também diretora da Think Olga, organização sem fins lucrativos que utiliza a comunicação como ferramenta para a mobilização social. Seu trabalho foi premiado com o selo de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, bi-campeã do prêmio WEPs, da ONU Mulheres e finalista do Prêmio Caboré em 2021. Obteve um MBA pela ESADE Business School em Barcelona, onde atuou como Head of Area em Marketing para o mercado Latino Americano em multinacionais como Desigual e Mango (MNG). Em 2016, foi eleita Top Voices Brasil pelo Linkedin Brasil.
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