Por William Castro Alves*
Claro que eu entendo essa sensação de insegurança dos investidores quanto ao impacto em seu patrimônio e as eventuais consequências para o câmbio e a economia brasileira. No entanto, o olhar histórico nos indica que já temos um vencedor definido antes mesmo de iniciarmos a contagem dos votos: o dólar! Deixe-me explicar…
Apesar dos temores que insistem em rondar o mercado em momentos como este, cabe lembrar que, lá pelos idos de 1890, a economia americana alcançou a do Reino Unido em valor de PIB e, desde então, a supremacia dos EUA se mantém inalterada, independentemente dos presidentes eleitos. Ao longo das últimas cinco décadas, o PIB americano tem respondido, em média, por 26,6% da economia mundial, tendo a China atingido a marca de 17% no ano passado.
E o dólar? Tendo se tornado a moeda oficial americana em 1792, tomou o protagonismo ao se transformar no principal ativo de reserva de valor no mercado após a Segunda Guerra Mundial. A verdade é que, segundo o Fundo Monetário Internacional, 59% das reservas globais estão alocadas atualmente na moeda americana, sendo a China o país que mais detém dólares no mundo depois dos EUA. Estima-se que o dólar esteja envolvido em, pelo menos, 89% de todas as transações cambiais realizadas.
E qual é o efeito das eleições americanas no mercado? No curto prazo, volatilidade. Mas, a longo prazo, é praticamente nulo.
Afinal, os EUA continuam sendo o principal mercado financeiro e de capitais do mundo. Falando de S&P 500, apenas três presidentes encerraram os seus mandatos com uma taxa de retorno média anual negativa: Herbert Hoover, Richard Nixon e George W. Bush. Em geral, o retorno anualizado do índice nos diferentes mandatos foi de 9,5% ao ano. Com relação à renda fixa, a gestão Biden deverá ser a primeira na história a encerrar com um retorno médio negativo, resultado da elevação dos juros pós-pandemia, nada tendo a ver com o seu mandato em si.
Em suma, quatro anos não são suficientes para mudar uma história de décadas de hegemonia. Muitos acreditavam, por exemplo, que os EUA mudariam drasticamente no primeiro mandato de Donald Trump, considerado um outlier imprevisível. A verdade é que certas coisas simplesmente não se modificam da noite para o dia. A economia americana segue resiliente, o consumo tem se mantido firme, o Fed continua sendo um banco central independente e focado em proteger o dólar, com o Congresso e o Senado americanos atuando de forma democrática e autônoma, sendo capazes de frear eventuais exageros propostos em campanha.
Nos Estados Unidos, a cédula mais forte não é aquela com o nome de Trump ou de Kamala, mas a do dólar.
*William Castro Alves é estrategista-chefe da Avenue.