As exportações do agronegócio brasileiro em 2024 devem se manter no patamar do ano passado, em torno de US$ 166 bilhões. A projeção feita por dois especialistas, Andréia Adami, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea), e Pedro Rodrigues, assessor de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), tem por base dois fatores: queda de 17,8% nos preços de exportação da cadeia da soja brasileira nos nove primeiros meses do ano, pressionados pelo aumento da oferta global, e a quebra da safra do grão, estimada em cerca de 12 milhões de toneladas, que reduziu a oferta para exportação.
No ano, até setembro, as vendas externas brasileiras do agronegócio somaram US$ 125,89 bilhões, 0,2% inferior ao obtido no mesmo período em 2023. Os números resultaram da queda de 6,7% no índice de preços do setor, que não compensou o aumento de 6,9% no volume comercializado. “O ano de 2024 não vai deixar saudades”, resume José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
O volume exportado de soja em grão, historicamente maior item da pauta brasileira – ultrapassado recentemente pelo petróleo -, cresceu 1,5% de janeiro setembro, embora em termos de valores tenha caído 16,3% em comparação ao mesmo período de 2023. A China, que responde por 73% das vendas externas da soja brasileira, ampliou suas importações em 6%, mas a um preço 20% abaixo do valor de 2023, segundo Andreia Adami. Ainda assim, a demanda se manteve em patamares inferiores ao previstos, segundo Pedro Rodrigues, devido aos grandes estoques chineses e ao aumento das vendas do grão produzido na Argentina.
“Em contrapartida, houve melhora na exportação de outros itens, como o de carne bovina, com recorde de exportações, aumento de 19,9% em valores e 27,8% em quantidade, entre janeiro e setembro de 2024 [ante mesmo período de 2023]”, diz Rodrigues. “A participação da China foi importante, mas também houve evolução para outros mercados, como Emirados Árabes, Estados Unidos, Argélia, Turquia e México”, continua.
Já as importações de produtos agropecuários cresceram 15,9% na mesma base de comparação, para US$ 14,472 bilhões, equivalente a 7,4% do total internalizado pelo país no período. O saldo da balança comercial do setor ficou positivo em US$ 111,421 bilhões, mas 2% abaixo do registrado em igual período de 2023.
Soja e carne lideram as exportações do agronegócio brasileiros. Juntos, complexo soja, com vendas de US$ 47,32 bilhões, e carnes, US$ 18,87 bilhões, somados ao complexo sucroalcooleiro (US$ 14,76 bilhões), de produtos florestais (US$ 12,82 bilhões) e ao café (US$ 8,36 bilhões), representaram 81,1% das vendas externas do setor nos nove primeiros meses do ano. O resultado até outubro ainda não foi contabilizado oficialmente, mas cálculos de Andreia Adami apontam para um total de US$ 138 bilhões.
Houve ainda alta de 2% no volume de exportações de frango graças à expansão para mercados estratégicos – China, Japão e União Europeia -, segundo Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), embora a receita tenha caído 1,5% no período. Já em outubro, houve crescimento tanto em valores, 25%, quanto em toneladas, 15,4%. “O mercado global segue pressionado pela gripe aviária e como a produção brasileira está livre desse problema, a demanda pelas exportações de frangos do Brasil continua elevada”, diz Santin. Só a China, principal importador, aumentou em 30,4% suas importações do Brasil.
Já 2025 acena com cenário mais favorável. Apesar das expectativas de políticas protecionistas nos Estados Unidos sob Donald Trump, especialistas destacam possível aumento das importações chinesas. “Podemos esperar pela continuidade de crescimento da proteína animal, sobretudo carne bovina, e pelo bom desempenho da soja, talvez superior ao deste ano, tanto em valor quanto em volume”, afirma Rodrigues. “Há ainda tendência de alta das commodities no preço internacional. Temos demanda aquecida da China, que responde por quase 40% da exportação de carne bovina do Brasil.”
Castro, da AEB, estima alta de preços entre 5% e 7%. “Não temos uma base técnica para isso, porque os preços oscilam ao sabor da vontade do mais forte. A recuperação viria do fato de termos dois anos com preço baixo nos principais produtos de exportação do Brasil. A expectativa é que estanque em 2025”, afirma.