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Análise: Musk vem atuando como um quase primeiro-ministro dos EUA | Humberto Saccomandi

Redação
por Redação

O bilionário Elon Musk foi indicado para o cargo de secretário de Eficiência Governamental no próximo governo americano. Mas ele vem se envolvendo em muitos outros assuntos desde a vitória eleitoral de Donald Trump. A sua influência crescente sugere que ele poderá atuar como uma espécie de primeiro-ministro de Trump. Se Musk realmente tiver todo o poder que vem deixando transparecer, isso tem potencial de causar grandes problemas para o governo brasileiro.

Musk, que é a pessoa mais rica do mundo e o controlador da rede social X, foi um dos principais apoiadores e conselheiros de Trump ao longo da campanha eleitoral. Acabou sendo indicado para dirigir o novo Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), cuja missão será reduzir o tamanho do Estado e o gasto público e desregulamentar os EUA. Ele dividirá o cargo com outro bilionário, Vivek Ramaswamy.

Mas, desde a confirmação da vitória eleitoral de Trump, Musk vem buscando influenciar questões que estão além da sua alçada direta. Ele comenta quase diariamente assuntos de política externa, conseguiu torpedear um projeto bipartidário para manter o financiamento do governo (uma versão menor acabou sendo aprovada), pressionou deputados republicanos e tentou até influenciar na indicação de outros membros do governo.

Nunca na história recente dos EUA um assessor do presidente eleito teve uma atuação tão ampla e explícita como Musk está tendo agora. Os democratas jocosamente o chamam de presidente, co-presidente ou de “o chefe”. No episódio do projeto de lei do Congresso, no qual Musk tomou a iniciativa, a porta-voz de Trump acabou afirmando que “o presidente Trump é o líder do Partido Republicano”.

O tema mais recorrente de Musk tem sido a política externa. Ele está em guerra com o governo britânico, liderado pelo premiê trabalhista Keir Starmer, e nessa segunda-feira (06) sugeriu no X que os EUA deveriam “liberar o povo do Reino Unido do seu governo tirânico”. Ele também zombou do premiê esquerdista canadense, Justin Trudeau, depois que esse anunciou sua renúncia.

Ainda na segunda-feira (06), o presidente francês, Emmanuel Macron, acusou Musk de interferir em processos eleitorais na Europa e de apoiar um novo movimento reacionário internacional. Musk apoiou abertamente o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) de extrema direita, na atual campanha eleitoral alemã e tuitou que “só a AfD pode salvar a Alemanha”.

O empresário participou de algumas conversas telefônicas de Trump com líderes estrangeiros, incluindo com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, dias após a vitória eleitoral de novembro.

Musk tem sido muito mais vocal em relação a política externa americana do que Marco Rubio, o indicado por Trump para chefiar o Departamento de Estado. Musk e Rubio, aliás, divergem em algumas questões de política externa. O empresário parece favorecer uma relação menos tensa com a China, país onde sua montadora, a Tesla, tem importantes negócios.

Musk vem interferindo também na política interna americana. Na semana passada, ele pediu votos para a reeleição do presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Mike Johnson, depois que este prometeu ajudar no corte de gasto público nos EUA.

Além disso, Musk tentou influenciar na escolha do secretário do Tesouro, o principal cargo da equipe econômica americana, apoiando abertamente Howard Lutnick. Trump acabou escolhendo Scott Bessent. É muito incomum um membro indicado da equipe de governo apoiar explicitamente candidatos para outros cargos.

Imigração foi outro tema alvo de Musk nas últimas semanas. Apesar de Trump ter prometido reduzir a entrada de estrangeiros nos EUA, Musk defendeu a ampliação da concessão de vistos H-1B, para trabalhadores altamente qualificados. Empresas de tecnologia, como as de Musk, são grandes usuários desse tipo de visto, cuja concessão Trump reduziu no seu primeiro governo. Musk afirmou que falta mão de obra capacitada nos EUA. Críticos argumentam que grandes empresas usam esse visto para contratar estrangeiros pagando menos do que custa um trabalhador americano.

Essa ampla atuação de Musk parece sugerir que a sua função no governo Trump 2 poderá ir muito além do Departamento de Eficiência Governamental. A desenvoltura com que vem atuando sugere que ele pode vir a ser uma espécie de primeiro-ministro informal, já que o cargo não existe no governo americano. Ou seja, um escudo entre Trump e o restante do governo e o Congresso.

Não está claro o quanto desse ativismo de Musk nos últimos dois meses é combinado com Trump, mas o presidente eleito até agora não o desautorizou publicamente. Musk gastou mais de US$ 220 milhões de sua fortuna pessoal para ajudar a eleger Trump e eles têm passado muito tempo em contato próximo na residência de Trump em Mar-a-Lago. Pouquíssimas pessoas têm esse nível de acesso ao presidente eleito.

Para o Brasil, essa forte influência de Musk no governo Trump ameaça ser uma fonte de problemas. O empresário, controlador também da Starlink, provedora de internet por satélite, tem uma relação tensa com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se repetir o padrão dos últimos meses, Musk deve apoiar explicitamente e fazer campanha para algum candidato muito à direita no Brasil. Isso pode influenciar decisões do governo dos EUA em questões envolvendo as relações bilaterais. Além disso, Musk já deu a entender que espera ver preso o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Fonte: Externa

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