O que confere à prisão do general Walter Braga Netto ares de “as instituições estão funcionando” não é sua condição de general quatro estrelas ou de segundo na linha de comando do golpismo. É o fato de ter acontecido enquanto o presidente da República está no estaleiro.
Não se trata de uma prisão inédita nem na história recente nem na pregressa, dada a frequência com a qual os militares se meteram na política em todos os regimes pelos quais o Brasil passou. Foram presos militares golpistas e legalistas, como foi o caso do marechal Henrique Lott. Depois da renúncia de Jânio Quadros, Lott, que por ele havia sido derrotado na disputa pela Presidência, divulgou um manifesto em defesa da Constituição.
Como o estatuto dos militares previa que um militar só podia ser preso por um superior hierárquico, foram buscar Mascarenhas de Moraes em casa para a missão. O marechal, de 88 anos à época, havia comandado a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial.
Se a prisão de Braga Netto não é inédita, não deixa de ser relevante para a reconstituição e punição de toda a cadeia de comando do golpismo. Braga Netto ficará preso nas dependências que estiveram sob suas ordens, no Comando Militar do Leste.
Ele era seu comandante quando foi alçado pelo ex-presidente Michel Temer para ser o interventor da Segurança Pública no Rio. Foi, portanto, peça chave na crescente militarização do país que deu luz ao bolsonarismo. Temer nomeou o primeiro ministro da Defesa militar da Pasta, Joaquim Silva e Luna, desde sua criação no governo Fernando Henrique Cardoso.
Braga Netto deixou o comando para ser chefe do Estado Maior do Exército, ministro da Defesa e da Casa Civil antes de virar candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro à reeleição. Sua prisão sugere que a de Bolsonaro não esteja longe de acontecer. Pelo ocaso do bolsonarismo revelado pelas últimas pesquisas e rechaço ao golpismo mesmo entre seus eleitores, não deverá causar grande comoção na República.
A prisão de Braga Netto é apenas o recado mais recente de que o lugar dos militares é fora da política. Histórico é o fato de a República não balançar nem mesmo com um presidente que acabou de tirar um dreno do cérebro.