“Acho que não haverá corte de juros [nos EUA] até dezembro, e essa seria a decisão correta, não vejo como o Federal Reserve [Fed, o banco central americano] poderia cortar juros antes das eleições de novembro”, afirmou o ex-membro do Conselho de Governadores do Federal Reserve (Fed, banco central americano) Kevin Warsh, durante o Summit Valor Econômico Brasil-USA.
Warsh lembrou que o Fed cometeu um erro de julgamento no início do surto inflacionário, quando avaliou a subida de preços nos EUA como transitória. “A inflação tem a ver com política monetária dos BCs e as pessoas responsáveis têm responsabilidade pela inflação.”
O ex-dirigente do BC americano afirmou ser “bastante crítico em relação ao Fed”, em relação ao fato de a autoridade monetária se preocupar com o “clima” do noticiário. “Quanto mais nos preocupamos com o clima [dos mercados], mais desejamos parecer que estamos muito felizes em cortar as taxas, como o banco central parece interessado em fazer”, disse.
O ex-integrante do conselho de governadores apontou outro ponto crítico para a política monetária americana. “A compra de bônus do Tesouro pelo Fed turvou a linha entre política monetária e fiscal”, afirmou.
No período da crise financeira de 2008 e na pandemia, o BC dos EUA realizou programas de aquisição de títulos do Tesouro americano como forma de estimular a economia e reduzir impactos das crises. Segundo Warsh, “quanto maior o problema da inflação, mais regressivo será o imposto para as pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo”.
Conforme o ex-Fed, “os EUA têm obrigação de ter políticas fiscal e monetária responsável”. No entanto, segundo o especialista, “grandes gastos do governo nos últimos anos e erro do Fed [em acreditar em uma inflação transitória] levou a essa inflação”. Para Warsh, a forma de corrigir isso “é ter política monetária e fiscal mais responsável”.
Já o ex-presidente do Fed de Saint Louis James Bullard, que participou do mesmo painel, disse enxergar a credibilidade do BC americano como um dos fatores que vão assegurar um cenário de “pouso suave” para a economia dos EUA no fim do atual ciclo de política monetária. Segundo o ex-dirigente, “o CPI [índice de inflação americano] esta manhã veio em linha com expectativas, um pouco mais suave, então é boa notícia para o Fed”. Conforme o especialista, “eu vejo um ‘soft landing’ [pouso suave] nos EUA”.