De acordo com a UNFCCC, cerca de 85 mil pessoas participaram da última COP, a 28, sediada em Dubai, no ano passado. Mesmo com o altíssimo custo de estadia, esse número foi duas vezes maior do que a COP anterior, no Egito, e incluiu mais de 150 chefes de Estado e de governo, representantes da sociedade civil, do setor empresarial, de povos indígenas, juventudes, entidades filantrópicas, entre outras organizações internacionais. Só a delegação brasileira, a maior da COP e da história da participação do país, contou com 1.337 pessoas credenciadas pelo governo federal, segundo a Secretaria de Comunicação Social – isso sem contar as pessoas que foram à COP com credenciais de organizações observadoras.
Se por um lado houve um recorde de público, o espaço para participação de atores não estatais na Conferência não ficou tão evidente, com uma lacuna de ações ativistas e sobreposição de espaços de eventos. O resultado das negociações, embora relevante por incluir pela primeira vez a menção à necessidade de transição dos combustíveis fósseis na história das decisões de COPs, não foi empolgante nos encaminhamentos de questões espinhosas e muito relevantes para países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, como financiamento climático e adaptação.
Quem trabalha com o tema de mudança do clima há algumas décadas já ouviu ou falou em algum momento que devemos “furar a bolha”. Fica claro que cada vez mais o debate saiu do nicho e tem atraído mais e mais interessados – um ótimo sinal. Porém, o número estrondoso de participantes também gerou o termo “turismo de COP”: profissionais que estão começando a frequentar a conferência não como um espaço de negociação multilateral, mas como mais um evento no calendário, sem uma agenda clara e propositiva, mas com muitas fotos para as redes sociais. A realização da COP30 no Brasil, em 2025, também atraiu mais olhares brasileiros às conferências.
Trazer luz para a importância do que acontece nas negociações é algo necessário, e quanto mais setores e profissionais engajados, melhor. Porém, precisamos de uma participação qualificada, que possa influenciar de fato as negociações e a implementação de seus resultados antes, durante e depois das COPs.
E o que podemos fazer diferente para as próximas?
O primeiro passo é saber como funciona uma COP, que papel os diferentes setores podem e devem exercer para contribuir com o processo de negociações internacionais. Depois, é preciso desenvolver as capacidades e habilidades necessárias para uma atuação efetiva, o que inclui aproveitar melhor os espaços onde é possível estar, como o Espaço Brasil e os eventos paralelos.
Um grupo de cerca de 40 ONGs brasileiras, representando todas as regiões do Brasil e atuando em diferentes frentes na agenda de clima fizeram um movimento importante nesse sentido. Apoiadas pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e com a contribuição técnica do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (FGVces), essas organizações estão passando por um programa de formação para fortalecer suas capacidades de participação no debate internacional sobre mudança do clima, o que inclui uma simulação das negociações.
Os resultados parciais do programa são bastante promissores. Alguns depoimentos de quem está participando apontam para novas compreensões sobre como atuar para influenciar o rumo das negociações; revelam a necessidade de uma articulação de agendas e esforços para que as manifestações da sociedade civil sejam de fato consideradas; e trazem reflexões importantes sobre a empatia pelas equipes de negociação dos países, afinal, após calçarem seus sapatos em uma atividade de simulação, foi possível perceber o quão demandante e repleto de pressão é o trabalho da diplomacia e da busca por consensos globais a partir de contextos tão diferentes.
Para além dos textos de negociações, as atividades do programa também levantaram muitas possibilidades de atuação sobre a chamada “Agenda de Ação” das COPs – compromissos assumidos paralelamente à agenda oficial, que envolvem acordos multissetoriais e estimulam a implementação de ações na chamada economia real.
Para 2025, estendemos esse mesmo convite ao setor empresarial: passar por um programa formativo com foco em fortalecer as capacidades de gestores e gestoras para participarem de forma propositiva na COP de Belém, contribuindo para os avanços tão necessários e urgentes nas diversas agendas das negociações. Representantes de empresas devem se mobilizar e marcar presença não apenas durante a COP, mas ao longo de todo o processo de preparação, na formulação das políticas de clima e posicionamento do país nas negociações e nas soluções para sua implementação. E, de quebra, para quem estiver na COP, também aproveitar as belezas de Belém para posts nas redes socias.
(*) Disclaimer: Este artigo reflete a opinião do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.
- Fernanda Carreira é vice-coordenadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas.
- Cíntya Feitosa é especialista em Estratégias Internacionais no Instituto Clima e Sociedade.
- Gabriela Alem é coordenadora do programa Formação Integrada do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas.