Ainda que a Síria não tenha uma produção relevante de petróleo, a cotação da commodity pode disparar nesta segunda-feira por conta da instabilidade geral no Oriente Médio, na visão de João Victor Marques, da FGV Energia.
Depois da invasão de forças militares rebeldes na capital síria ontem, o Ministério de Relações Exteriores da Rússia informou neste domingo que o presidente da Síria, Bashar al Assad, deixou o país e renunciou. Assad era um aliado da Rússia e do Irã, e a derrubada do ditador alimentará outras grandes tensões geopolíticas.
Conforme as agências russas TASS e Interfax, Assad está em Moscou após a fuga.
Para o especialista da FGV Energia, a instabilidade naquela região tem sido um efeito dominó, com maior visibilidade a outras causas como os houthis no Iêmen, o transbordamento do conflito para Líbano com ataques diretos entre Hezbollah e Israel, e agora a Síria indiretamente pela menor apoio do Irã ao regime de Assad, pois estava mais focado em apoiar o Hamas e Hezbollah nos últimos meses.
“A mesma situação se repete com a Rússia, aliada do Assad, que se concentra na Ucrânia. Sem Irã e os mercenários russos na Síria, foi um momento oportuno para os rebeldes retomarem tão rapidamente o controle de várias cidades. Para o Irã há um impacto no seu eixo da resistência, e a Rússia que tem uma base naval no sul da Síria, também representa um revés. O risco que a gente tem é uma ‘nova Líbia’, com a derrubada de um regime mão de ferro e a proliferação de milícias extremistas que encontram um ambiente fértil na ausência de autoridade estatal. “
Para Najad Khouri, especialista em Oriente Médio e fundador do Grupo de Estudos e Pesquisas do Oriente Médio (Gepom), mudanças mais permanentes no mercado de petróleo dependem mais da previsão de consumo da China e das decisões da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados.
“O grupo decidiu recentemente estender o corte de produção no mercado mundial, podendo retirar mais dois milhões de barris por dia para manter o equlíbrio entre produção e consumo. O objetivo é deixar o preço flutuar em torno de US$ 75 por barril, valor aceitável para Arábia Saudita e Rússia. Antes, o plano era que esse corte terminaria em dezembro.”