Um rápido olhar para a plateia da edição do Projeto Aquarius realizada no domingo no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, já mostrava que o evento foi capaz de reunir uma seleção diversa de fãs de música. Lá estavam casais jovens e maduros, crianças, esportistas e também torcedores com camisas de futebol. A variedade de público refletiu as apresentações no palco, onde composições da música erudita passearam entre hits do cancioneiro popular ao longo de 1h30 de concerto.
“É uma grande responsabilidade para um cantor se apresentar com uma orquestra. Estamos todos nas mãos do maestro. Nesse momento, é preciso encontrar nossa voz no meio de tantas outras e mergulhar na música. Foi lindo desde o ensaio”, disse Xênia.
O maestro ainda lançou mão de “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, e “Um a zero”, da dupla Pixinguinha e Benedito Lacerda. A plateia dançou e aplaudiu efusivamente ao fim das canções. Logo, Rael, cria da Zona Sul paulistana, brotou no palco para apresentar sua faixa “Descomunal” e mais “Envolvidão” com acompanhamento da orquestra — mas sem perder a atitude do hip-hop que a canção carrega.
“É preciso combater essa separação que existe do que é erudito do que é popular. Ter um evento gratuito, acessível, no Parque do Ibirapuera em um dia lindo e com arranjo das minhas canções me deixou muito feliz”, disse.
Presente na última edição do Projeto Aquarius no Rio, Luedji Luna fez sua estreia na edição paulistana. No palco, a baiana, que mora em São Paulo, contou com o coro da plateia para cantar seu sucesso “Banho de folhas”.
“Foram shows completamente diferentes no Rio e em São Paulo porque mudaram as orquestras. Amo associar minha música a orquestras porque sinto que a engrandece”, afirmou Luedji. “A música “Banho de folhas” é do meu primeiro disco, mas a cada ano que passa ela fica mais conhecida. Acho que em alguns anos ela se torna quase um domínio público.”
Em diversos momentos do concerto foi possível ver o maestro Wagner Polistchuk sorrir enquanto regia a orquestra, que ainda estava acompanhada de uma big band de jazz. A alegria,diz Polistchuk, é compartilhada com os músicos que o acompanham.
“Sempre falo antes do concerto aos músicos: divirtam-se. Ao passar toda a preparação e os ensaios, chega o momento para o divertimento”, contou o maestro. “Foi uma grande surpresa reger o Aquarius. Minha esposa havia feito parte do coral no ano passado, mas eu não imaginaria que neste ano seria minha vez. Foi uma emoção muito diferente.”
Por falar em emoção, uma família em especial chegou cedo para não perder nenhum lance do evento. Alexandre, Ariane e Bento Stackfletch estavam recostados em um tronco de árvore enquanto a apresentação não se iniciava.
“É meu primeiro concerto e do Bento também. Agora que ele tem 1 ano e 7 meses, poderemos começar a levá-lo em shows musicais”, comemorou a mãe.
Das vezes em que o projeto aconteceu em terras paulistanas, em 1981 houve uma das edições memoráveis do evento: na data, o Monumento do Ipiranga recebeu uma multidão que ansiava para ver uma reconstituição do Grito da Independência no dia 7 de setembro. A Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), na ocasião, foi regida pelo maestro e pianista Arthur Moreira Lima, morto em outubro.
No ano passado, fez sucesso a união entre Fafá de Belém, o maestro Roberto Minczuk, a Orquestra Experimental de Repertório e a revelação Isis Testa, campeã do The Voice Kids em 2022.
Desde sua criação, em 1972, pelo jornalista Roberto Marinho (1904-2003) junto ao então gerente de promoções do GLOBO Péricles de Barros (1935-2005) e ao maestro Isaac Karabtchevsky, o Aquarius foi um método inovador de formar novos fãs para a música clássica e incluir culturalmente plateias que estavam distantes dos grandes concertos.
O Ministério da Cultura apresenta o Aquarius São Paulo através da Lei de Incentivo à Cultura. O evento conta ainda com a Cidade de São Paulo como Cidade Anfitriã, patrocínio master da Fundação Theatro Municipal, patrocínio de Santander Brasil e VIVO, apoio de Paper Excellence, do Grupo CCR, por meio do Instituto CCR, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e da Sabesp; tem a rádio CBN como Rádio Oficial e produção da SrCom. A realização é do GLOBO através do Ministério da Cultura, Governo Federal.