O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou hoje que não houve contradição no fato de o governo anunciar ao mesmo tempo um pacote de contenção de gastos e o aumento da isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil. Ele ainda evitou opinar sobre eventual intervenção para segurar a cotação do dólar.
“Eu não lamentei o anúncio [da isenção do IR], lamentei vazamento antes da hora”, disse. “O vazamento [da isenção do IR] permitiu leitura equivocada do que estávamos propondo”, completou. Haddad disse que a desaceleração do dólar ao longo desta sexta foi devido às explicações da equipe econômica sobre a proposta.
Contudo, conforme mostrou o Valor, a equipe econômica foi obrigada a anunciar a reforma da renda da pessoa física no mesmo dia das medidas de contenção de gastos, de forma a não prejudicar a imagem do governo perante à população.
Haddad reforçou que a renda do IR é neutra do ponto de vista fiscal porque aquelas pessoas com renda total a partir de R$ 1,2 milhão por ano vão passar a pagar uma alíquota efetiva de 10% de imposto de renda, de forma a compensar o aumento da faixa de isenção. “Pessoa que ganha mais de R$ 1 milhão por ano está no topo da pirâmide e hoje essa pessoa usa artifícios para não pagar Imposto de Renda”, reclamou o ministro.
Ele voltou a dizer que a medida busca combater desigualdades sociais. “Governo não quer arrecadar mais com reforma da renda, quer arrecadar de maneira mais justa.”
Ainda na entrevista, ele reforçou que a reforma da renda é uma discussão para 2025, porque entrará em vigor somente em 2026. “Serão meses de discussão sobre reforma da renda.”
O ministro disse que as decisões sobre intervenção no dólar são técnicas e devem ser tomadas por quem está no dia a dia do Banco Central. “Falar de fora do Banco Central não é muito prudente”, disse.
De acordo com Haddad, o que pode ser feito pelo Executivo é indicar os melhores quadros disponíveis e esperar uma atuação. “Quando você está na arquibancada, você sempre acha que sabe mais do que quem está atuando”, afirmou o ministro, destacando que as decisões devem ser tomadas por técnicos que acompanham os temas com uma ampla gama de informações.
Haddad explicou que o atual diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, conquistou tanto a confiança da política quanto do mercado e que ele está se preparando para assumir o cargo em 2025.