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Incerteza fiscal e juro põem em risco bens de capital | Brasil

Redação
por Redação

A Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM) referente a setembro, divulgada na sexta-feira, 1, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforça o cenário de recuperação do setor de bens de capital, um segmento essencial para a expansão sustentada da economia. Mas as perspectivas para as taxas de juros e, mais uma vez, as incertezas fiscais seguem colocando dúvidas sobre essa recuperação em prazos mais longos.

Segundo o IBGE, a produção de bens de capital, que são as máquinas e equipamentos usados pela indústria, cresceu 7,5% no acumulado do ano até setembro. A comparação é sempre com o mesmo período do ano anterior. A produção industrial como um todo também cresceu no período, mas em ritmo inferior, com alta de 3,1%. Somente entre agosto e setembro, no cálculo já livre de fatores sazonais, o crescimento da produção de bens de capital foi de 4,2%. A expansão recupera parte do recuo de 4,6% registrado entre julho e agosto.

Em relatório, o Banco ABC Brasil afirma que o desempenho do setor no mês retrasado foi “benigno” e, ao lado da indústria de construção civil, “sugere expansão também nos investimentos brutos no período”.

De certa maneira, o crescimento da produção de bens de capital em 2024 já era esperada. O principal motivo foi a queda de 11,1% da produção desses bens registrada no ano passado — ainda que o último ciclo de cortes da Selic, que passou em termos anuais de 13,75% em junho de 2023 para 10,5% em maio deste ano, também possa ter dado algum impulso.

Além da produção interna, a importação de bens de capital também vem se recuperando. Como mostrou o Valor no começo de outubro, os desembarques desses bens cresceram 20% no acumulado do ano até setembro, alcançando US$ 26,4 bilhões. Já as importações como um todo da economia brasileira no período cresceram 8%. Além disso, levantamento realizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostrava que, nos nove primeiros meses de 2024, os desembarques cresceram em todas as dez categorias de bens de capital.

Para o Bradesco, a produção e a importação de bens de capital em setembro, aliadas ao desempenho da indústria de construção civil, geram “boa perspectiva para os investimentos no terceiro trimestre” — ainda que em ritmo menor do que nos três meses anteriores.

Um fator que poderá impulsionar ainda mais tanto a produção quanto as importações de bens de capital foi a entrada em vigor, em setembro, da depreciação superacelerada da indústria. O mecanismo prevê R$ 3,4 bilhões até o fim de 2025 para que empresas deduzam, em até dois anos, do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) investimentos realizados em máquinas e equipamentos. A depreciação é considerada pelo vice-presidente e titular do Mdic, Geraldo Alckmin, a principal medida da política industrial lançada pelo governo federal neste ano.

Mas as incertezas a respeito da trajetória da dívida pública e o consequente impacto dessas incertezas nas taxas de juros de longo prazo, que são as que mais importam para o financiamento de bens de capital, tendem a atrapalhar a recuperação. No começo da tarde de sexta-feira, as taxas cobradas no Depósito Interfinanceiro (DI) superavam os 13% ao ano em vários dos contratos que vencem até 2031, segundo matéria do repórter Gabriel Cadeira. Isso significa uma taxa real de juros superior a 7% ao ano, o maior patamar desde o começo de 2016. Em setembro, antes portanto da última rodada de piora da avaliação do mercado sobre as perspectivas para as contas públicas, o Banco Central (BC) já tinha afirmado que as “condições monetárias mais restritivas” devem fazer com que o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) diminua de 5,5% neste ano para 2% no ano que vem. A FCBF é uma medida dos investimentos na economia. Na quarta-feira, o BC deverá pela segunda reunião consecutiva elevar a Selic, atualmente em 10,75%. A projeção mediana do mercado, segundo o Boletim Focus, é que a taxa básica de juros encerre 2024 em 11,75%.

Embora o quadro externo também explique o aumento das projeções para as taxas de juros de prazos mais longos, agentes do mercado atribuem o movimento principalmente às incertezas fiscais. Nesse cenário, as medidas de corte de gastos da União, em análise pela área jurídica do governo federal, se mostram cada vez mais necessárias. É importante que elas sejam elaboradas e tratadas internamente com a devida cautela. Mas também é importante que o governo apresente um pacote consistente, que permita aos investidores enxergarem a manutenção do arcabouço fiscal da União e que, consequentemente, permita a queda das taxas de juros.

Fonte: Externa

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