A menos de uma semana da eleição, o índice dos candidatos na pesquisa espontânea ganha relevância. É uma situação mais próxima da real no dia da eleição. Quando o eleitor se dirigir a uma cabine de votação, não haverá um pesquisador para lhe apresentar um disco de cartolina com o nome de todos os candidatos para fazer sua escolha. Nesse sentido, a pesquisa Quaest divulgada nesta segunda-feira (30) sugere que a presença do líder na pesquisa estimulada, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), com 24%, não tem sua presença no segundo turno estimulada. Ele conta com dez pontos percentuais a menos na pesquisa espontânea. O segundo colocado, Guilherme Boulos (Psol), com 23% na estimulada, vai um pouco melhor e tem 17%. O terceiro colocado, Pablo Marçal (PRTB), que ficou com 21% na estimulada, empata com Nunes quando não é apresentada nenhuma lista de candidatos.
Boulos também não está seguro, mas a possibilidade do candidato do Psol ir ao segundo turno é ligeiramente maior do que a de seus oponentes diretos, porque corre em faixa própria, enquanto Nunes e Marçal disputam os segmentos bolsonarista e evangélico, quase superpostos. Há um risco para ele, contudo, chamado Tabata Amaral (PSB). A deputada foi quem mais cresceu na pesquisa, passando de 8% para 11%. Boulos não se mexeu, Marçal oscilou um para cima e Nunes um para baixo. Tabata é forte nos bairros de classe média alta, na faixa de ensino superior e no eleitorado mais jovem, segmentos em que Boulos teria bom potencial.
A candidata do PSB pode ganhar algum impulso com o debate entre os quatro primeiros candidatos promovido pelo UOL e pelo jornal “Folha de S.Paulo”, graças a Marçal. O candidato do PRTB deu a ela um verdadeiro presente, ao fazer duas declarações machistas, uma durante o debate, outra em entrevista depois. No debate, disse que “mulher não vota em mulher porque é inteligente”. Fora do debate, disse que Tabata fez “talaricagem”, ou seja, teria sido o motivo pelo qual seu namorado, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), desmanchou seu relacionamento anterior.
Marçal é muito rejeitado entre as mulheres, conta com apenas 15% das intenções de voto femininas, e seu desempenho no debate em nada deve ter diminuído sua rejeição. Para Tabata, ser atacada com declarações machistas por um candidato rejeitado no segmento feminino pode impulsioná-la entre os eleitores mulheres, universo em que conta com 11%.
Marçal mostra resiliência, sugerindo que está em seu teto e em seu piso. Como se trata acima de tudo de um fenômeno digital e não conta com o apoio de toda a direita, terá sua grande chance de ganhar impulso na reta final se tiver um bom desempenho no debate da TV Globo, na quinta-feira, com rendimento para ser aproveitado em seus famigerados “cortes” que se propagam nas redes sociais.
O debate de hoje foi um palco para Marçal encurralar Ricardo Nunes, citando oito vezes que o prefeito foi alvo em 2011 de um boletim de ocorrência apresentado por sua mulher, Regina Carnovale, por violência doméstica e retomando as insinuações sobre a vida pessoal de Boulos. Em uma tentativa de se proteger em relação a novos ataques, Boulos admitiu que experimentou maconha e teve uma internação em um hospital por uma crise de depressão. Sem os dez debates que foram realizados desde o início da campanha, Marçal não teria material para produzir sua alavancagem nas redes sociais e nas pesquisas. É preciso ressaltar, contudo, que Marçal teve uma liberdade no debate do UOL que não teve em confrontos com regras rígidas, como foram os do SBT e da TV Record.
Nunes têm como trunfo seu desempenho sólido na faixa de renda mais baixa e de mais idade. São dois segmentos muito suscetíveis à propaganda eleitoral em rádio e televisão, que termina na quinta-feira. Seu desempenho no debate desta segunda-feira foi desastroso e não há porque pensar que ele será beneficiado pelo confronto da TV Globo. Ele dependerá do volume físico de campanha na reta final, do empenho das máquinas partidárias que o apoiam.
A eleição em São Paulo chega à sua reta final com um cenário de indefinição inédita nas pesquisas. Nunca aconteceu de se chegar a esse estágio da campanha sem ninguém assegurado no segundo turno. Boulos não empolgou a esquerda, a direita se dividiu com o surgimento do fenômeno Marçal e Tabata não conseguiu fechar a aliança com o PSDB que esperava ter. Os tucanos caminham para um desempenho melancólico com José Luiz Datena, dono de esquálidos 6% na estimulada. A extrema fragmentação mergulhou a campanha paulistana no escuro.