A vice-presidente democrata Kamala Harris e o ex-presidente republicano Donald Trump se encontrarão pela primeira vez ao subirem ao palco nesta terça-feira (10) para o único debate entre os dois agendado até agora, um confronto que suas equipes veem mais como uma questão de estilo do que de substância política.
Democratas próximos da campanha de Kamala disseram que ela e sua equipe estão muito concentrados em dois pontos: encontrar a melhor maneira para ela checar os fatos e confrontar Trump, que eles veem como um exibicionista e valentão, e ao mesmo tempo apresentar aos americanos menos familiarizados com sua biografia.
Enquanto isso, Trump pretende dar espaço para Kamala falar, na esperança de que suas respostas pareçam confusas, aproveitando as críticas de sua campanha às habilidades de oratória dela.
O objetivo de ambos — a dois meses das eleições e com as pesquisas apontando uma disputa apertada — é convencer os eleitores de que são o candidato mais forte, mesmo que os detalhes de suas agendas permaneçam vagos.
“Debates são interessantes”, disse Trump na quarta-feira (4) a Sean Hannity da Fox News. “Você pode entrar com toda a estratégia que quiser, mas é preciso meio que sentir o momento.”
O debate na Filadélfia promete ser um dos maiores testes da carreira política de Kamala, um desafio que seu antecessor na chapa democrata, o presidente Joe Biden, não conseguiu superar em uma apresentação catastrófica contra Trump no único confronto dos dois nesta campanha.
Kamala já está na Pensilvânia, preparando-se em Pittsburgh com duas assessoras que, embora não façam parte formalmente da campanha, ela confia há muito tempo.
Rohini Kosoglu, que foi sua principal conselheira política na Casa Branca e chefe de gabinete no Senado, comanda os preparativos, auxiliada por Karen Dunn, sócia da firma de advocacia Paul Weiss. Dunn ajudou Kamala a se preparar para o debate vice-presidencial contra Mike Pence em 2020 e ajudou Hillary Clinton a se preparar para enfrentar Trump em 2016.
Kamala está realizando debates simulados, com Philippe Reines, um ex-assessor de Hillary, interpretando Trump. Reines desempenhou o mesmo papel para Hillary em 2016, vestido como o ex-presidente com uma gravata vermelha e um terno grande demais.
A vice-presidente é conhecida por fazer preparativos detalhados para discursos, eventos e debates, segundo um ex-assessor. Este disse que Kamala frequentemente faz anotações em documentos preparatórios e revisa seus pensamentos com os principais assessores para garantir que, ao falar, ela o faça na linguagem mais clara possível.
A equipe de Kamala prevê que Trump a atacará na economia e na imigração. Mas o ex-assessor de Kamala diz que não será útil para ela se aprofundar nas questões de política e que seu sucesso dependerá de demonstrar que está acima dos insultos de Trump.
Ron Klain, ex-chefe de gabinete da Casa Branca, acredita que Kamala irá atrás do histórico de Trump no cargo, promovendo a ideia de que sua Presidência foi caótica e que sua resposta à pandemia de covid-19 foi horrível. “Ela precisa dizer que irá lutar pelos americanos, enquanto Trump está nisso apenas por ele mesmo.”
Em um evento da Bloomberg News durante a Convenção Nacional Democrata no mês passado, Kosoglu disse que fazer um contraste com Trump será uma parte importante de sua estratégia. A vice-presidente pergunta repetidamente “como estamos garantindo que os eleitores realmente entendam o que está em jogo”, disse ela.
Os assessores de Trump veem o debate como uma oportunidade para interromper o que eles consideram um período de lua de mel para Kamala. Trump inicialmente teve dificuldades com sua nova adversária para finalmente substituir seus ataques à idade avançada de Biden e sua energia, por piadas sobre a inteligência e a identidade racial de Kamala.
No debate, seus assessores de campanha e aliados querem que ele se concentre na economia, a questão primordial aos eleitores. Pesquisas internas de campanha mostram que Trump tem uma vantagem sobre Kamala na questão da inflação, já que os eleitores ainda sofrem com preços mais altos.
Trump vem se preparando de forma semelhante ao do evento de junho com Biden, segundo assessores. Por não gostar de debates simulados, Trump prefere, em vez disso, fazer workshops de falas memoráveis com assessores e discutir questões políticas com especialistas no assunto. Trump também vê entrevistas na mídia e discursos públicos, como o que ele deu na quinta-feira no Economic Club de Nova York (5), como formas de ensaiar para o debate.
“Não teremos uma sessão formal de preparação para o debate”, disse o companheiro de chapa de Trump, JD Vance, na quinta-feira (5). O ex-presidente continuará falando com os eleitores na campanha e “incorporará isso a uma mensagem que funcione para o povo americano”.
Uma das principais vantagens de Trump são os anos de experiência no palco dos debates em sua terceira candidatura à presidência. “Ninguém é mais experiente nisso do que Trump. Ninguém participou de mais debates presidenciais do que Trump”, disse David Axelrod, um dos principais assessores do presidente Barack Obama. “Combinado com os 14 anos que ele passou como astro de reality show, ele sabe onde as câmeras estão. Ele sabe como manipulá-las.”
O histórico de Kamala com debates inclui alguns momentos notáveis. Durante as primárias democratas de 2020, ela enfrentou Biden sobre sua oposição ao transporte escolar na década de 70 para a dessegregação das escolas. E uma troca de palavras com a ex-deputada Tulsi Gabbard, que a atacou por processar crimes relacionados à maconha, voltou a viralizar nesta eleição. Gabbard anunciou seu apoio a Trump no mês passado.
“Kamala fez um debate nacional com Pence. Ela se saiu bem, mas as apostas são muito grandes”, acrescenta Axelrod.
Nos bastidores, ambas as campanhas discutiram as regras do debate, incluindo se os microfones seriam silenciados quando não for a vez de um candidato falar. As regras definidas com a ABC preveem microfones silenciados, uma condição que a equipe de Kamala tentou mudar para que os telespectadores pudessem ouvir se Trump a interromper e para que ela possa verificar as informações dele em tempo real mais facilmente.
Axelrod acredita que Trump se envolverá em “interrupções, afirmações ultrajantes, uma série de táticas projetadas para tirá-la do jogo”. “Não espero que ele seja menos indisciplinado, não importa o conselho que receba.”