A manutenção do tom conservador do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, voltou a dar sustentação à ponta curta da curva no pregão desta segunda-feira (19), diante da leitura que a autoridade pode voltar a subir a Selic no curto prazo. Ao mesmo tempo, a percepção dos agentes de um menor risco associado a uma política monetária mais leniente com a inflação no futuro abriu espaço para a continuidade da retirada de prêmios nas parcelas intermediária e longa da curva de juros, que terminaram o dia em queda.
Após ter dado declarações bastante conservadoras desde a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Banco Central, o diretor de política monetária da instituição voltou a enfatizar, hoje, suas mensagens de desconforto com o cenário inflacionário.
O dirigente chamou a atenção para as recentes surpresas com a atividade econômica e repetiu a metáfora de que o BC tem o papel institucional de ser “o chato da festa” — aquele que pede para abaixar a música justamente nos momentos de maior agitação. Galípolo voltou a explicitar que é um dos membros do Copom que vê o balanço de riscos para a inflação como assimétrico e que classifica a projeção de inflação no horizonte relevante do BC — em 3,2% na última reunião no cenário alternativo — como acima da meta.
No mercado de opções digitais de Copom, a probabilidade de manutenção da Selic em 10,5% em setembro caiu de 31,5% para 25%, ao passo que a chance de alta de 0,25 p.p. subiu de 38% para 42% e a de elevação de 0,5 p.p. avançou de 29% para 31%.
Já o dólar comercial voltou a exibir queda firme e encerrou o dia em baixa de 1,03%, negociado a R$ 5,4114.
Para além dos preços de mercado, os recentes sinais emitidos por membros do Copom também têm levado a uma série de revisões nos cenários-base de instituições financeiras, como apontou o Valor recentemente. Hoje, foi a vez da XP Investimentos e do BTG Pactual apontarem que esperam elevações na Selic já na reunião de setembro.
“Como temos afirmado, a ação está se tornando cada vez mais necessária e, à luz das recentes comunicações do BC, agora achamos altamente provável que um ciclo de aumento da taxa se materialize a partir da próxima reunião do Copom em setembro. De fato, um movimento, agora, tenderia a favorecer cenários de flexibilização da política monetária em 2025, especialmente se a política fiscal mostrar apoio. Dito isso, continuamos atentos às próximas divulgações de dados econômicos e, principalmente, à comunicação do BC nas próximas semanas para reafirmar ou reavaliar nossa visão antes da próxima reunião”, afirmam os economistas Claudio Ferraz, Bruno Martins e Bruno Balassiano, do BTG.
Em caráter reservado, o estrategista de uma importante instituição local aponta que passou a acreditar em uma alta de juros no curto prazo quando o presidente da República, Luiz Inacio Lula da Silva, teria “autorizado” a retomada do aperto monetário em uma entrevista recente.
Segundo esta fonte, a melhora nas projeções de inflação do Copom não deveria impedir uma elevação da Selic no curto prazo. “As projeções do Copom estavam bastante subestimadas e, agora, será necessária alguma correção, que deveria ser iniciada pela estimativa do hiato do produto”, aponta. “O outro problema é que a projeção dele também só vai melhorar porque o câmbio melhorou, ao menos em parte, por conta dessa postura, assim como as expectativas. Então, se não entregarem de fato a alta, poderia voltar a piorar”, afirma.
Vale mencionar que, pela segunda semana consecutiva, a mediana das projeções de inflação para o ano de 2025 voltou a cair no Relatório Focus. A estimativa mediana para o IPCA em 2025 recuou de 3,97% para 3,91%.