O gravador de voz da cabine do avião ATR-72 que caiu em Vinhedo (SP) na última sexta-feira (9) registrou conversas do copiloto sobre “dar potência” à aeronave minutos antes da colisão, além de gritos na aeronave.
As cerca de duas horas de transcrição foram feitas pelo laboratório de leitura e análise de dados do Centro de Investigação e Prevenção e Acidentes (Cenipa), vinculado à Força Aérea.
Segundo os investigadores, a análise preliminar dos dados indica que o ATR 72-500 perdeu altitude de forma repentina. E que a análise do áudio da cabine, sozinha, não é capaz de cravar uma causa aparente para a queda.
Conversa do copiloto, gritos e estrondo
A transcrição do áudio da caixa-preta mostra que, ao perceber que o avião estava perdendo sustentação, o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva perguntou o que estava acontecendo.
Disse que era preciso “dar potência” – uma tentativa de estabilizar a aeronave e impedir a queda. O que, infelizmente, não foi possível.
Cerca de um minuto se passou entre a constatação da perda de altitude e o choque do avião contra o solo. Neste tempo, segundo os investigadores, o áudio registra que a tripulação tentou reagir.
A gravação é finalizada com gritos e com o estrondo do choque da aeronave contra o chão.
Causa ainda é investigada
O ATR 72-500 tem as hélices da parte de cima da fuselagem, muito próximas da cabine de comando. O que, segundo investigadores, provocou muito barulho e aumentou a dificuldade para decifrar os diálogos gravados.
Mesmo assim, em uma análise preliminar, o Cenipa não identificou sons característicos de alertas que poderiam “guiar” a investigação sobre as causas: o alarme de presença de fogo, de falha elétrica ou de pane no moto, por exemplo.
Os dados da caixa-preta, nessa primeira avaliação, ainda não permitem confirmar ou descartar a principal hipótese levantada pelos especialistas nos últimos dias: a de que o avião teria caído em razão da formação de gelo nas asas, seguida de uma perda de estabilidade (“estol”, no jargão).
A confirmação da causa do acidente vai depender da análise de mais registros das caixas-pretas – e da combinação de todas essas informações.
O relatório preliminar sobre o caso deve ficar pronto em 30 dias. Nesse prazo, os investigadores esperam desvendar o “contexto” da tragédia – considerado nebuloso até o momento.
Apuração envolve França e Canadá
Engenheiros da empresa francesa ATR, fabricante do avião, e da canadense Pratt&Whitney, fabricante do motor, passaram a manhã desta quarta na sede do Cenipa, em Brasília.
Os trabalhos têm o auxílio também de representantes da BEA e da TSB, órgãos responsáveis pela segurança dos voos nos dois países e com profundo conhecimento dos sistemas desse modelo de aeronave.
A participação das equipes estrangeiras nesse trabalho faz parte de acordos internacionais de cooperação, sempre que acontece um acidente aéreo como o da última semana.