Conhecido como o principal palco internacional da publicidade, Cannes, na Riviera Francesa, também sedia todo ano um festival de criatividade, o Cannes Lions International Festival of Creativity. Este ano, um trio de brasileiras vai apresentar no evento um projeto inovador de comunicação na área de sustentabilidade.
Chamado de Business Model (RE)Generation Canvas, a ferramenta é uma versão ESG (sigla em inglês para questões ambientais, sociais e de governança corporativa) do conhecido Business Model Canvas (BMC), modelo de gerenciamento estratégico usado por profissionais no mundo todo para ajudar no desenvolvimento e detalhamento de modelos de negócio novos ou existentes em uma única página.
A ideia do trio de brasileiras é criar uma ferramenta que incorpore os princípios ESG para acelerar a jornada de transformação do negócio. “O Business Model Canvas (BMC) original – de autoria do Alex Osterwalder e demais coautores – está entre as ferramentas criativas mais usadas no ambiente de negócios. Ao invés de criarmos um framework novo, hackeamos o mais familiar, para que as comunidades de startups, scale ups, inovação, estratégia, marketing e criatividade incorporem essas novas provocações, rapidamente”, explica Dilma Campos. Ela esclarece que a ideia não foi substituir o Canvas original, mas atualizá-lo para incluir uma “análise mais provocativa e adaptada ao contexto atual”.
“Regenerar e lucrar ao mesmo tempo” e “ter o ESG como território criativo”, conector de ideias aparentemente díspares e uma forma de reunir insights e criar sentido não apenas financeiro, mas de impacto positivo para o meio ambiente e a sociedade para os negócios. É com este mote que elas querem chamar a atenção no festival de criatividade.
A tese central dos negócios hoje, defende o trio, é que não basta ser um negócio lucrativo; é necessário resolver problemas urgentes da humanidade, criando valor para todos os stakeholders por meio de práticas empresariais conscientes, comprometidas e regenerativas, que contribuam com impacto positivo.
Paula Trabulsi defende que temas complexos precisam também de respostas complexas “traduzidas em linguagem objetiva, simples e sexy”. “Embarcamos no desafio de narrar sobre esses dois territórios – lucro e regeneração – vistos normalmente como excludentes mas que, depois da soma de inúmeras mentes e mais de 200 horas de sinapses, viraram convergentes!”.
Entre as diferenças do Canvas tradicional para o modelo regenerativo estão, por exemplo, os nomes de sete dos nove blocos, como por exemplo de “relação com consumidores” para “relações regenerativas” e “Canais para pontos de contato”. Houve ainda mudanças iconográficas no novo template.
Além de encontrar um “market fit”, o grupo propõe a resolução de problemas urgentes da humanidade, ao mesmo tempo em que o negócio gera valor para todos os stakeholders, incluindo o planeta, e adota práticas empresariais conscientes e regenerativas. Outra mudança está no impacto: o trio defende que as empresas não podem mais se limitar a gerar empregos e pagar impostos; elas devem atuar de forma a solucionar questões globais e desafios sociais e ambientais maiores.
A ferramenta – Business Model (RE)Generation Canvas – é uma das iniciativas que o think tank #ESGpraJÁ, que reúne mais de 60 pensadores brasileiros das áreas de comunicação, marketing, inovação,sustentabilidade, estratégia, cultura e outros ramos relacionados, está desenvolvendo.
Erlana Castro explica que o #ESGpraJÁ nasceu durante a pandemia, inspirado pelo movimento do Fórum Econômico Mundial chamado “The Great Reset” [Um grande recomeço, na tradução livre]. O objetivo era explorar como o ESG poderia ser uma grande ideia criativa, operacionalizando diretrizes de negócios de forma inovadora.
“É um movimento independente, um grupo de estudos avançado, uma comunidade criativa e um think tank. A comunidade se dedica a estudar e discutir os impactos do ESG nas marcas e negócios, produzindo conhecimento aplicável e open source para acelerar a virada criativa ESG”, conta Castro. Ela destaca que tudo que é produzido pelo grupo fica aberto a quem quiser aplicar, no modelo de open source.
O Festival Internacional de Criatividade de Cannes Lions deste ano acontece entre 17 e 21 de junho e terá mais de 150 horas de conteúdo, com cerca de 500 palestrantes de todo o espectro da criatividade, incluindo Deepak Chopra, Google, Guiness, Jay Shetty, Queen Latifah e Marc Pritchard. O painel “How to: Blend ESG into Your Creative Equation” [Como integrar ESG na equação criativa, em tradução livre], de Dilma Campos, Erlana Castro e Paula Trabulsi, será no dia 18 de junho, das 12h45 às 13h15 (no horário padrão da Europa Central), no Atelier, Rotonde. A curadoria foi do eixo Talent and Cultures (Talentos e Culturas), focado em temas de pessoas e práticas por trás de organizações criativas.