“O ser humano é inteiro. A ideia convencional, binária, de que a inteligência é a razão e o cognitivo, e que as emoções são apenas sentimentos à parte está ultrapassada”. É o que diz Sílvia Armada, educadora corporativa e diretora de Sucesso do Aluno da Fundação Wadhwani, organização sem fins lucrativos que incentiva competências socioemocionais para empregabilidade.
O conceito ganhou popularidade através do trabalho do psicólogo e escritor norte-americano Daniel Goleman, sustentando-se em 5 pilares:
- Autoconsciência (conhecer a própria personalidade),
- Autorregulação (reagir de maneira equilibrada às ações ambientes),
- Automotivação (buscar estímulos internos),
- Empatia (tentar colocar-se no lugar do outro)
- Habilidades sociais (ter boas relações interpessoais).
No trabalho, 88,36% dos funcionários e 86,02% dos chefes acreditam que tomariam as melhores decisões na carreira se conhecessem melhor a si mesmos, de acordo com estudo feito em 2024 em parceria entre a escola de treinamento profissional The School of Life e a consultoria de RH Robert Half. Foram entrevistados 774 profissionais de todo o Brasil.
Sílvia Armada afirma que o baixo nível de “letramento emocional”, prática que não se aprende nem em casa, nem na escola ou universidade, a dificuldade em “nomear sentimentos” e, no caso específico do brasileiro, de viver em uma “sociedade de respostas, não de perguntas”, que tem medo do incômodo, são empecilhos para o desenvolvimento humano e profissional.
Abaixo, veja 7 dicas para “turbinar” a inteligência emocional no trabalho:
1. Perceber o que acontece fisicamente
Classificar e diferenciar as emoções ajudam a racionalizar a maneira de agir proporcional à situação: “Qual emoção você está sentindo? Quando alguém diz ‘estou com raiva’, é raiva mesmo ou é irritação? Ou frustração, insegurança?”, reflete Armada.
Como a emoção é, também, um estado físico, uma boa estratégia é analisar os sinais do corpo: arrepios, choro, palpitações, rosto queimando, tremedeira, falta de ar, gaguejar ao falar e movimentos repetitivos são algumas das reações que “depuram” os sentimentos.
2. Separar fatos de julgamentos
“O que aconteceu é diferente do imaginário que temos sobre o que aconteceu. Imagine um chefe que cruza com um colaborador numa sexta-feira, às 16h, e diz para ele passar na sala mais tarde. O funcionário pensa, automaticamente, em quê? Demissão!”, exemplifica a educadora corporativa. “Daí, ele imagina todo o cenário de como ficará a vida dele… E se ele só perguntasse ao chefe qual era o teor da conversa? Os sintomas de ansiedade baixariam, provavelmente”.
Perguntar nunca é demais: tirar dúvidas, entender o que é (parece ser) óbvio e repetir explicações são um treino para o autodesenvolvimento. Como dito anteriormente, “uma simples pergunta resolve pequenas e grandes situações, mas é importante haver um ambiente colaborativo para não encorajar constrangimentos”, comenta Armada.
4. Entender as diferenças pessoais
Cada indivíduo tem a própria visão de mundo, as próprias experiências e interpreta circunstâncias conforme a realidade particular. Armada diz: “O que mexe comigo de uma maneira negativa, pode não ser nada para o outro e vice-versa. Por isso é necessário que as empresas garantam espaços seguros de troca”.
5. Enfrentar as conversas difíceis
A diretora de Sucesso do Aluno da Fundação Wadhwani aponta o afastamento momentâneo como uma alternativa de preparo: “Sair mais cedo para almoçar, ir tomar um café ou ligar para alguém que ama ajudam na tentativa de fazer uma leitura do outro com mais equilíbrio e objetividade, para manter a postura profissional ao se posicionar. Relaxar é um ato de autorregulação”.
O olhar do outro é um bom indicador comportamental: “Perguntar a um colega de confiança, maduro, sobre o que ele achou de uma fala ou uma reação sua durante uma apresentação, uma reunião, é um instrumento para calibrar as emoções na convivência corporativa”, ressalta a educadora corporativa.
“Eles sempre vão acontecer. Só que o ponto-chave é a adaptação emocional diante deles. Quando a pessoa tem a inteligência emocional desenvolvida, ela se trata e trata o outro de uma forma respeitosa e muda a perspectiva da reação negativa como padrão”, diz Sílvia Armada.
Consequência da falta de inteligência emocional
A instabilidade emocional dos colaboradores nas relações de trabalho pode provocar uma “ressaca moral”, diz Armada. Ela ainda esclarece que a incapacidade de se autorregular pode marcar a reputação do trabalhador pela arrogância, com pouca maturidade profissional.
Apesar de ser uma habilidade de autodesenvolvimento, a inteligência emocional e outras soft skills (competências comportamentais e interpessoais) entram no radar de grandes empresas como o Grupo Boticário e a Ambev.
Um exemplo sobre o prestígio da inteligência emocional está no relatório Future of Jobs (“O Futuro do Trabalho”, em tradução livre), do Fórum Econômico Mundial, que posiciona a habilidade como a principal soft skill de 2024.
Diana Gabanyi, CEO e sócia-fundadora da The School of Life Brasil, menciona no documento da “Pesquisa Inteligência Emocional & Saúde Mental no Ambiente de Trabalho 2024” que “é responsabilidade da organização oferecer um ambiente de trabalho que não seja tóxico, disponibilizar recursos para que os colaboradores possam desenvolver bem suas atividades e se desenvolver no trabalho. Mas os sentimentos com relação ao trabalho são conquistas individuais”.